quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

PRECISAMOS DAQUELE AUDITÓRIO LOTADO !


Hoje recebemos a informação de que o pontapé inicial para o Governo nos enxergar como aliados, teria sido o evento que organizamos no Comitê do então Candidato Roberto Cláudio. Esse ato em especial, essa manifestação, poderá nos render bons frutos em breve.

Sendo assim, vimos mais uma vez convocá-los para COMPARECEREM EM MASSA e mostrarmos à sociedade uma NOVA POLÍCIA CIVIL no seminário Polícia Civil Cidadã. Entendam que se estamos nos esforçando para fazer desse evento um sucesso, é porque existem motivos fortes para isso, assim como haviam na eleição, então pedimos que façam esse pequeno esforço e compartilhem conosco a manhã do próximo sábado.

Temos a certeza que ali subiremos mais um degrau rumo à nossa tão sonhada valorização profissional.


MOVIMENTO VAMOS MUDAR A POLÍCIA

domingo, 24 de fevereiro de 2013

01° SEMINÁRIO "POLÍCIA CIVIL CIDADÃ: UM NOVO PARADIGMA"


É com muito orgulho que o MOVIMENTO VAMOS MUDAR A POLÍCIA vem convidar toda a categoria Policial Civil do Estado, a participar do 01° Seminário "Polícia Cidadã: Um novo Paradigma", que ocorrerá à partir das 08h do dia 02/03/2013, no Auditório do Centro de Ensino Técnico – CTS Cursos, localizado na Avenida Tristão Gonçalves, nº 1177, Centro, Fortaleza/CE e contará com a presença de diversas autoridades.

Intencionando iniciar uma série de debates no seio da sociedade civil organizada, no que tange ao fiel cumprimento do papel constitucional da Polícia Judiciária, bem com da sua função social dentro da estrutura do Estado, apresentamos à categoria a oportunidade de discutir e apresentar soluções para a situação caótica por que passa a Polícia Civil atualmente.

Amanhã à tarde e terça-feira, nos dois turnos, estaremos na Praça da Delegacia Geral para que os interessados possam se inscrever. Não cobraremos nada, mas quem puder ajudar simbolicamente com R$5,00 para ajudar com os gastos com o evento, ficaremos muito agradecidos.

Até terça-feira já teremos os nomes dos palestrantes confirmados e divulgaremos para conhecimento de todos, mas desde já podemos adiantar que convidamos pessoas que verdadeiramente tenham a acrescentar ao tema debatido e que são grandes formadores de opinião. Precisamos entender que sozinhos e sem apoio, dificilmente conseguiremos conquistar tudo o que queremos e merecemos, por isso se faz tão importante o apoio da sociedade civil organizada.

Então fica o convite: à partir das 08h do dia 02/03/2013, - Auditório do Centro de Ensino Técnico – CTS Cursos (Avenida Tristão Gonçalves, nº 1177, Centro, Fortaleza/CE).

MOVIMENTO VAMOS MUDAR A POLÍCIA



segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

DOUTOR É QUEM TEM DOUTORADO


Por que o uso da palavra “doutor” antes do nome de advogados e médicos ainda persiste entre nós? E o que ela revela do Brasil?


Sei muito bem que a língua, como coisa viva que é, só muda quando mudam as pessoas, as relações entre elas e a forma como lidam com o mundo. Poucas expressões humanas são tão avessas a imposições por decreto como a língua. Tão indomável que até mesmo nós, mais vezes do que gostaríamos, acabamos deixando escapar palavras que faríamos de tudo para recolher no segundo seguinte. E talvez mais vezes ainda pretendêssemos usar determinado sujeito, verbo, substantivo ou adjetivo e usamos outro bem diferente, que revela muito mais de nossas intenções e sentimentos do que desejaríamos. Afinal, a psicanálise foi construída com os tijolos de nossos atos falhos. Exerço, porém, um pequeno ato quixotesco no meu uso pessoal da língua: esforço-me para jamais usar a palavra “doutor” antes do nome de um médico ou de um advogado.  
Travo minha pequena batalha com a consciência de que a língua nada tem de inocente. Se usamos as palavras para embates profundos no campo das ideias, é também na própria escolha delas, no corpo das palavras em si, que se expressam relações de poder, de abuso e de submissão. Cada vocábulo de um idioma carrega uma teia de sentidos que vai se alterando ao longo da História, alterando-se no próprio fazer-se do homem na História. E, no meu modo de ver o mundo, “doutor” é uma praga persistente que fala muito sobre o Brasil. Como toda palavra, algumas mais do que outras, “doutor” desvela muito do que somos – e é preciso estranhá-lo para conseguirmos escutar o que diz. 
Assim, minha recusa ao “doutor” é um ato político. Um ato de resistência cotidiana, exercido de forma solitária na esperança de que um dia os bons dicionários digam algo assim, ao final das várias acepções do verbete “doutor”: “arcaísmo: no passado, era usado pelos mais pobres para tratar os mais ricos e também para marcar a superioridade de médicos e advogados, mas, com a queda da desigualdade socioeconômica e a ampliação dos direitos do cidadão, essa acepção caiu em desuso”.  
Em minhas aspirações, o sentido da palavra perderia sua força não por proibição, o que seria nada além de um ato tão inútil como arbitrário, na qual às vezes resvalam alguns legisladores, mas porque o Brasil mudou. A língua, obviamente, só muda quando muda a complexa realidade que ela expressa. Só muda quando mudamos nós. 
Historicamente, o “doutor” se entranhou na sociedade brasileira como uma forma de tratar os superiores na hierarquia socioeconômica – e também como expressão de racismo. Ou como a forma de os mais pobres tratarem os mais ricos, de os que não puderam estudar tratarem os que puderam, dos que nunca tiveram privilégios tratarem aqueles que sempre os tiveram. O “doutor” não se estabeleceu na língua portuguesa como uma palavra inocente, mas como um fosso, ao expressar no idioma uma diferença vivida na concretude do cotidiano que deveria ter nos envergonhado desde sempre.  
Lembro-me de, em 1999, entrevistar Adail José da Silva, um carregador de malas do Aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre, para a coluna semanal de reportagem que eu mantinha aos sábados no jornal Zero Hora, intitulada “A Vida Que Ninguém Vê”. Um trecho de nosso diálogo foi este: 
- E como os fregueses o chamam?
- Os doutor me chamam assim, ó: “Ô, negão!” Eu acho até que é carinhoso.

- O senhor chama eles de doutor?
- Pra mim todo mundo é doutor. Pisou no aeroporto é doutor. É ó, doutor, como vai, doutor, é pra já, doutor....

- É esse o segredo do serviço?
- Tem que ter humildade. Não adianta ser arrogante. Porque, se eu fosse um cara importante, não ia tá carregando a mala dos outros, né? Sou pé de chinelo. Então, tenho que me botar no meu lugar.

A forma como Adail via o mundo e o seu lugar no mundo – a partir da forma como os outros viam tanto ele quanto seu lugar no mundo – contam-nos séculos de História do Brasil. Penso, porém, que temos avançado nas últimas décadas – e especialmente nessa última. O “doutor” usado pelo porteiro para tratar o condômino, pela empregada doméstica para tratar o patrão, pelo engraxate para tratar o cliente, pelo negro para tratar o branco não desapareceu – mas pelo menos está arrefecendo. 
Se alguém, especialmente nas grandes cidades, chamar hoje o outro de “doutor”, é legítimo desconfiar de que o interlocutor está brincando ou ironizando, porque parte das pessoas já tem noção da camada de ridículo que a forma de tratamento adquiriu ao longo dos anos. Essa mudança, é importante assinalar, reflete também a mudança de um país no qual o presidente mais popular da história recente é chamado pelo nome/apelido. Essa contribuição – mais sutil, mais subjetiva, mais simbólica – que se dá explicitamente pelo nome, contida na eleição de Lula, ainda merece um olhar mais atento, independentemente das críticas que se possa fazer ao ex-presidente e seu legado. 
Se o “doutor” genérico, usado para tratar os mais ricos, está perdendo seu prazo de validade, o “doutor” que anuncia médicos e advogados parece se manter tão vigoroso e atual quanto sempre. Por quê? Com tantas mudanças na sociedade brasileira, refletidas também no cinema e na literatura, não era de se esperar um declínio também deste doutor? 
Ao pesquisar o uso do “doutor” para escrever esta coluna, deparei-me com artigos de advogados defendendo que, pelo menos com relação à sua própria categoria, o uso do “doutor” seguia legítimo e referendado na lei e na tradição. O principal argumento apresentado para defender essa tese estaria num alvará régio no qual D. Maria, de Portugal, mais conhecida como “a louca”, teria outorgado o título de “doutor” aos advogados. Mais tarde, em 1827, o título de “doutor” teria sido assegurado aos bacharéis de Direito por um decreto de Dom Pedro I, ao criar os primeiros cursos de Ciências Jurídicas e Sociais no Brasil. Como o decreto imperial jamais teria sido revogado, ser “doutor” seria parte do “direito” dos advogados. E o título teria sido “naturalmente” estendido para os médicos em décadas posteriores. 
Há, porém, controvérsias. Em consulta à própria fonte, o artigo 9 do decreto de D. Pedro I diz o seguinte: “Os que frequentarem os cinco anos de qualquer dos Cursos, com aprovação, conseguirão o grau de Bacharéis formados. Haverá também o grau de Doutor, que será conferido àqueles que se habilitarem com os requisitos que se especificarem nos Estatutos, que devem formar-se, e só os que o obtiverem, poderão ser escolhidos para Lentes”. Tomei a liberdade de atualizar a ortografia, mas o texto original pode ser conferido aqui. “Lente” seria o equivalente hoje à livre-docente. 
Mesmo que Dom Pedro I tivesse concedido a bacharéis de Direito o título de “doutor”, o que me causa espanto é o mesmo que, para alguns membros do Direito, garantiria a legitimidade do título: como é que um decreto do Império sobreviveria não só à própria queda do próprio, mas também a tudo o que veio depois? 
O fato é que o título de “doutor”, com ou sem decreto imperial, permanece em vigor na vida do país. Existe não por decreto, mas enraizado na vida vivida, o que torna tudo mais sério. A resposta para a atualidade do “doutor” pode estar na evidência de que, se a sociedade brasileira mudou bastante, também mudou pouco. A resposta pode ser encontrada na enorme desigualdade que persiste até hoje. E na forma como essas relações desiguais moldam a vida cotidiana. 
É no dia a dia das delegacias de polícia, dos corredores do Fórum, dos pequenos julgamentos que o “doutor” se impõe com todo o seu poder sobre o cidadão “comum”. Como repórter, assisti à humilhação e ao desamparo tanto das vítimas quanto dos suspeitos mais pobres à mercê desses doutores, no qual o título era uma expressão importante da desigualdade no acesso à lei. No início, ficava estarrecida com o tratamento usado por delegados, advogados, promotores e juízes, falando de si e entre si como “doutor fulano” e “doutor beltrano”. Será que não percebem o quanto se tornam patéticos ao fazer isso?, pensava. Aos poucos, percebi a minha ingenuidade. O “doutor”, nesses espaços, tinha uma função fundamental: a de garantir o reconhecimento entre os pares e assegurar a submissão daqueles que precisavam da Justiça e rapidamente compreendiam que a Justiça ali era encarnada e, mais do que isso, era pessoal, no amplo sentido do termo. 
No caso dos médicos, a atualidade e a persistência do título de “doutor” precisam ser compreendidas no contexto de uma sociedade patologizada, na qual as pessoas se definem em grande parte por seu diagnóstico ou por suas patologias. Hoje, são os médicos que dizem o que cada um de nós é: depressivo, hiperativo, bipolar, obeso, anoréxico, bulímico, cardíaco, impotente, etc. Do mesmo modo, numa época histórica em que juventude e potência se tornaram valores – e é o corpo que expressa ambas – faz todo sentido que o poder médico seja enorme. É o médico, como manipulador das drogas legais e das intervenções cirúrgicas, que supostamente pode ampliar tanto potência quanto juventude. E, de novo supostamente, deter o controle sobre a longevidade e a morte. A ponto de alguns profissionais terem começado a defender que a velhice é uma “doença” que poderá ser eliminada com o avanço tecnológico.  
O “doutor” médico e o “doutor” advogado, juiz, promotor, delegado têm cada um suas causas e particularidades na história das mentalidades e dos costumes. Em comum, o doutor médico e o doutor advogado, juiz, promotor, delegado têm algo significativo: a autoridade sobre os corpos. Um pela lei, o outro pela medicina, eles normatizam a vida de todos os outros. Não apenas como representantes de um poder que pertence à instituição e não a eles, mas que a transcende para encarnar na própria pessoa que usa o título.  
Se olharmos a partir das relações de mercado e de consumo, a medicina e o direito são os únicos espaços em que o cliente, ao entrar pela porta do escritório ou do consultório, em geral já está automaticamente numa posição de submissão. Em ambos os casos, o cliente não tem razão, nem sabe o que é melhor para ele. Seja como vítima de uma violação da lei ou como autor de uma violação da lei, o cliente é sujeito passivo diante do advogado, promotor, juiz, delegado. E, como “paciente” diante do médico, como abordei na coluna anterior, deixa de ser pessoa para tornar-se objeto de intervenção. 
Num país no qual o acesso à Justiça e o acesso à Saúde são deficientes, como o Brasil, é previsível que tanto o título de “doutor” permaneça atual e vigoroso quanto o que ele representa também como viés de classe. Apesar dos avanços e da própria Constituição, tanto o acesso à Justiça quanto o acesso à Saúde permanecem, na prática, como privilégios dos mais ricos. As fragilidades do SUS, de um lado, e o número insuficiente de defensores públicos de outro são expressões dessa desigualdade. Quando o direito de acesso tanto a um quanto a outro não é assegurado, a situação de desamparo se estabelece, assim como a subordinação do cidadão àquele que pode garantir – ou retirar – tanto um quanto outro no cotidiano. Sem contar que a cidadania ainda é um conceito mais teórico do que concreto na vida brasileira. 
Infelizmente, a maioria dos “doutores” médicos e dos “doutores” advogados, juízes, promotores, delegados etc estimulam e até exigem o título no dia a dia. E talvez o exemplo público mais contundente seja o do juiz de Niterói (RJ) que, em 2004, entrou na Justiça para exigir que os empregados do condomínio onde vivia o chamassem de “doutor”. Como consta nos autos, diante da sua exigência, o zelador retrucava: “Fala sério....” Não conheço em profundidade os fatos que motivaram as desavenças no condomínio – mas é muito significativo que, como solução, o juiz tenha buscado a Justiça para exigir um tratamento que começava a lhe faltar no território da vida cotidiana. 
É importante reconhecer que há uma pequena parcela de médicos e advogados, juízes, promotores, delegados etc que tem se esforçado para eliminar essa distorção. Estes tratam de avisar logo que devem ser chamados pelo nome. Ou por senhor ou senhora, caso o interlocutor prefira a formalidade – ou o contexto a exija. Sabem que essa mudança tem grande força simbólica na luta por um país mais igualitário e pela ampliação da cidadania e dos direitos. A estes, meu respeito.  
Resta ainda o “doutor” como título acadêmico, conquistado por aqueles que fizeram doutorado nas mais diversas áreas. No Brasil, em geral isso significa, entre o mestrado e o doutorado, cerca de seis anos de estudo além da graduação. Para se doutorar, é preciso escrever uma tese e defendê-la diante de uma banca. Neste caso, o título é – ou deveria ser – resultado de muito estudo e da produção de conhecimento em sua área de atuação. É também requisito para uma carreira acadêmica bem sucedida – e, em muitas universidades, uma exigência para se candidatar ao cargo de professor.
Em geral, o título só é citado nas comunicações por escrito no âmbito acadêmico e nos órgãos de financiamento de pesquisas, no currículo e na publicação de artigos em revistas científicas e/ou especializadas. Em geral, nenhum destes doutores é assim chamado na vida cotidiana, seja na sala de aula ou na padaria. E, pelo menos os que eu conheço, caso o fossem, oscilariam entre o completo constrangimento e um riso descontrolado. Não são estes, com certeza, os doutores que alimentam também na expressão simbólica a abissal desigualdade da sociedade brasileira.
Estou bem longe de esgotar o assunto aqui nesta coluna. Faço apenas uma provocação para que, pelo menos, comecemos a estranhar o que parece soar tão natural, eterno e imutável – mas é resultado do processo histórico e de nossa atuação nele. Estranhar é o verbo que precede o gesto de mudança. Infelizmente, suspeito de que “doutor fulano” e “doutor beltrano” terão ainda uma longa vida entre nós. Quando partirem desta para o nunca mais, será demasiado tarde. Porque já é demasiado tarde – sempre foi. 

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

MAIS UM DOS "NOSSOS" PERDE A VIDA

POLÍCIA CIVIL DE LUTO


Infelizmente, mais um dos “nossos” perde a vida de forma violenta e covarde. Sylvio Jefferson foi morto pelo insaciável apetite de sangue de criminosos inconsequentes. Nem mesmo “aniversariou” na sua recente aposentadoria, depois de 30 anos de efetiva contribuição à instituição Polícia Civil do Estado do Ceará. Conhecidíssimo pelo seu trabalho na circunscrição do 17º Distrito Policial, desde sua antiga localização no bairro Nova Assunção, Sylvio Jefferson torna-se mais um irmão morto em consequência do Status Quo da Segurança Pública no Estado do Ceará.

Sylvio Jefferson havia se aposentado há menos de um ano e, mesmo assim, ainda combatia eficazmente a criminalidade, através de um “bico” (termo usado para definir atividade na qual o policial se submete a desempenhar funções de segurança em mercadinhos, padarias, lanchonetes, farmácias, shoppings, etc.). Em virtude de um subsídio bem aquém do necessário para deixar para trás o “mundo cão” em que os agentes da Segurança Pública cearense desempenham suas funções, teve de, novamente, vivenciar todo o estresse e o perigo incutido na complexa tarefa de tentar trazer paz à população cearense. Acabou morto por assaltantes, de forma impiedosa.

O Estado do Ceará concorre em pé de igualdade com outros dois Estados nordestinos (Bahia e Pernambuco) no triste ranking dos Estados nordestinos mais violentos. Nem de longe essa vitória deve ser motivo de orgulho para o povo cearense. O Ceará caminha a passos largos para se transformar no maior pólo criminal do Nordeste! Culpa de quem? Como isso aconteceu? Tem como mudar essa desonrosa posição? Bem, o caminho de volta é bem complicado, porém não impossível.

Há décadas o Estado do Ceará, através de seus governantes, adota uma política errônea de Segurança Pública. Orquestrada na lógica “polícia administrativa prende os criminosos – lota as delegacias de presos – Inspetores de Polícia Civil têm de cuidar de presos da justiça cearense e, por isso, deixam de investigar os delitos – por falta de provas, delinquentes retornam a liberdade para delinquir novamente”. Por que se mantém essa negativa equação? Ora, estrategicamente é bem mais vantajoso desequilibrar o tripé da Segurança Pública (Polícia Militar, Polícia Civil e Bombeiros Militares). Engordando os quadros da Polícia Militar, têm-se profissionais que são submetidos às mais diversas situações (escalas extenuantes, salários baixos, péssimas condições de trabalho, etc.) sem a possibilidade do menor sopro de reivindicação do justo das bocas desses profissionais, vedadas por um severo código militar.

É elementar que sempre devemos ter a polícia administrativa com um maior efetivo, pois são eles que vão trazer a sensação de segurança nos bairros de nossa capital e dos interiores cearenses. Entretanto, quando infelizmente o crime concretiza-se, deve surgir de forma efusiva a figura da Polícia Judiciária para levar ao Ministério Público todas as provas necessárias para ratificar a autoria do delito e punir a contento quem não se adequa ao “viver em sociedade”. Não dá para ser diferente! Não dá para improvisar! Quando se trata da defesa do patrimônio e, principalmente, de vidas humanas, o “jeitinho brasileiro” tem de ser deixado de lado! Não dá para ficar com “economia de palito” em uma área tão delicada quanto essa. É imperativo que exista harmonia entre as forças policiais. Profissionais da segurança publica bem remunerados e qualificados para combater com Inteligência e eficácia o crime como um todo. Investimento em material humano é dever dos gestores estaduais.

Desde de meados de novembro do ano passado, mais de 500 Inspetores de Polícia Civil estão prontos para ingressar na Instituição. Meses se passaram e nada mudou essa situação. No carnaval desse ano houve uma verdadeira “operação tapa-buraco”, nos departamentos da Polícia Civil cearense. Férias foram sustadas inadvertidamente por falta de profissionais para trabalhar durante o carnaval. Enquanto isso, quase 1000 policiais militares foram efetivados no início de fevereiro. Dois pesos e duas medidas plenamente diferentes. Enquanto os gestores não enxergarem a Segurança Pública cearense de uma forma séria, macro, contextualizada e, principalmente, estratégica não sairemos dessa triste situação que nos acomete: pavor de sair de casa, desconfiança de tudo e de todos e medo de ocupar os espaços públicos do nosso querido Estado.

No último encontro que tive com Sylvio Jefferson nesses “plantões da vida”, percebi claramente o fácil sorriso que delineava o seu pomposo bigode quando nos referíamos a sua aposentadoria que se avizinhava. Sensação de alívio por ter chegado as suas três décadas de Instituição em pé, firme... VIVO!!! Bons pensamentos congestionavam seu cérebro naquele momento. Porém, precocemente foram tragados de forma trágica por criminosos adolescentes convictos da impunidade.

Mário Marques
Inspetor de Polícia Civil/07ºDP

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

POR UMA POLÍCIA CIVIL PRESTIGIADA




Com o título “Vamos mudar a Polícia, eis artigo da escrivã Ana Paula Cavalcante. O conteúdo, em alto nível, é para fomentar boas reflexões e debate sobre o setor de segurança e a situação da Polícia Civil do Estado. Confira:
Já se vão quase 13 (treze) anos como escrivã de Polícia Civil e, até hoje, ainda vejo nos olhos de uma boa parte dos meus irmãos um lampejo de esperança por dias melhores. Há também quem não acredite nisso. Infelizmente, o calejar do tempo e desilusões dos anos são implacáveis… Alguns dos chamados “antigões”, costumam dizer: “SE CONFORME, A POLÍCIA CIVIL É ASSIM. ISSO AQUI NUNCA VAI MUDAR “.
E aí me pergunto: POR QUE NÃO MUDA ???
Vivemos uma crise de violência nunca antes experimentada em nosso Estado e não há dúvidas de que isso está diretamente ligado ao sucateamento da Polícia Civil, órgão constitucionalmente encarregado de levar adiante as investigações de crimes das mais diversas espécies e modalidades. É com profundo pesar que digo que a nossa realidade hoje são pilhas e pilhas de inquéritos se acumulando, muitos deles enviados à Justiça com autoria desconhecida por não dispormos de efetivo para investigar… E aí, entramos num círculo vicioso: COMETIMENTO DO CRIME –> FALTA DE INVESTIGAÇÃO –>> IMPUNIDADE —>> AUTOR VOLTA A DELINQUIR NA CERTEZA DE NÃO SER IDENTIFICADO –>> A VIOLÊNCIA CRESCE.
Queremos ser mais do que meros registradores de BOs e “babás” de presos e, para isso, medidas se fazem urgentes, como a imediata convocação do restante dos inspetores do concurso de 2002, dos cerca de 80 (oitenta) escrivães remanescentes do concurso de 2006 (que em breve expirará), bem como das duas turmas do concurso em andamento para inspetores. Medidas apenas paliativas, mas que nos dariam um “balão de oxigênio” para respirar por algum tempo, sobretudo diante do desafio descomunal que enfrentaremos ao receber turistas dos mais diversos Estados e nacionalidades, durante os eventos de magnitude mundial que em breve sediaremos.
Hoje contamos na ativa com pouco mais de 1.600 policiais civis (escrivães, inspetores e técnicos e operadores em telecomunicações) para dar conta de uma demanda gigantesca e que não para de crescer. Apenas a título de comparação, no Estado de Pernambuco, que tem uma população similar à nossa, contam-se em torno de 6.000 PCs. Ou seja, a situação está beirando o caos e só nós mesmos sabemos do esforço descomunal que fazemos para que as coisas ainda continuem funcionando.
E o pior é ver o tamanho do sentimento de desestímulo e abatimento de toda a classe… aliás, não de toda. Os policiais civis delegados durante essa gestão saltaram de R$4.100,00, para, em 2014 (com a última parcela do seu escalonamento e o aumento linear), chegarem a aproximadamente R$14.800,00, iniciais.
Aplaudo o esforço do governo em reconhecer o valor do trabalho dos policiais civis delegados que, pela sua importância, de fato merecem sim ser valorizados. Mas há muita coisa que não consigo entender. Não entendo o porquê do tratamento desigual em relação ao restante da categoria, eis que também temos nível superior e somos todos integrantes do grupo de Atividade de Polícia Judiciária. Não entendo por que como escrivã em 2006 o meu salário correspondia a 40% do subsídio de um delegado e agora está em torno de 20%. Não entendo ainda como é possível que 11% do efetivo, abocanhe praticamente 40% do bolo destinado à Polícia Civil (refiro-me à atividade fim).
A frieza dos números assusta, porém não se pode desconsiderar todos esses fatores quando se pretende analisar a situação caótica por que passa a Segurança Pública do nosso Estado. Uma Polícia Civil fraca e desestimulada se reflete não só nos policiais, mas também e, principalmente, na população, que fica exposta à ação cada vez mais ousada dos marginais. Essa é uma equação que precisa ser refeita, sob pena do caos se instalar de vez no nosso Estado.
Sei que o governador Cid Gomes é um homem sério, verdadeiramente compromissado com a coisa pública, tenho certeza, cumprirá a sua promessa de campanha quando disse que, ao final de seu mandato, teríamos orgulho de ser policiais civis. Gostaria muito de um dia encontrá-lo e, olhando nos seus olhos, pedir para ter um cuidado especial com a minha classe, que hoje está esquecida e abandonada.
Aos meus irmãos, digo apenas: NÓS VAMOS SIM CONSEGUIR MUDAR, ACREDITEM E SE UNAM !!!
Uma categoria de nível superior deve agir com tal. Então, sejamos acima de tudo PROFISSIONAIS CUMPRIDORES FIÉIS DAS NOSSAS FUNÇÕES… e tenho certeza que viveremos o dia em que poderemos todos caminhar de cabeça erguida, sabedores do reconhecimento do nosso valor por parte da sociedade que cuidamos com tanto esforço, carinho e comprometimento.
* Ana Paula Lima Cavalcante
Escrivã.