segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

POR UMA POLÍCIA CIVIL PRESTIGIADA




Com o título “Vamos mudar a Polícia, eis artigo da escrivã Ana Paula Cavalcante. O conteúdo, em alto nível, é para fomentar boas reflexões e debate sobre o setor de segurança e a situação da Polícia Civil do Estado. Confira:
Já se vão quase 13 (treze) anos como escrivã de Polícia Civil e, até hoje, ainda vejo nos olhos de uma boa parte dos meus irmãos um lampejo de esperança por dias melhores. Há também quem não acredite nisso. Infelizmente, o calejar do tempo e desilusões dos anos são implacáveis… Alguns dos chamados “antigões”, costumam dizer: “SE CONFORME, A POLÍCIA CIVIL É ASSIM. ISSO AQUI NUNCA VAI MUDAR “.
E aí me pergunto: POR QUE NÃO MUDA ???
Vivemos uma crise de violência nunca antes experimentada em nosso Estado e não há dúvidas de que isso está diretamente ligado ao sucateamento da Polícia Civil, órgão constitucionalmente encarregado de levar adiante as investigações de crimes das mais diversas espécies e modalidades. É com profundo pesar que digo que a nossa realidade hoje são pilhas e pilhas de inquéritos se acumulando, muitos deles enviados à Justiça com autoria desconhecida por não dispormos de efetivo para investigar… E aí, entramos num círculo vicioso: COMETIMENTO DO CRIME –> FALTA DE INVESTIGAÇÃO –>> IMPUNIDADE —>> AUTOR VOLTA A DELINQUIR NA CERTEZA DE NÃO SER IDENTIFICADO –>> A VIOLÊNCIA CRESCE.
Queremos ser mais do que meros registradores de BOs e “babás” de presos e, para isso, medidas se fazem urgentes, como a imediata convocação do restante dos inspetores do concurso de 2002, dos cerca de 80 (oitenta) escrivães remanescentes do concurso de 2006 (que em breve expirará), bem como das duas turmas do concurso em andamento para inspetores. Medidas apenas paliativas, mas que nos dariam um “balão de oxigênio” para respirar por algum tempo, sobretudo diante do desafio descomunal que enfrentaremos ao receber turistas dos mais diversos Estados e nacionalidades, durante os eventos de magnitude mundial que em breve sediaremos.
Hoje contamos na ativa com pouco mais de 1.600 policiais civis (escrivães, inspetores e técnicos e operadores em telecomunicações) para dar conta de uma demanda gigantesca e que não para de crescer. Apenas a título de comparação, no Estado de Pernambuco, que tem uma população similar à nossa, contam-se em torno de 6.000 PCs. Ou seja, a situação está beirando o caos e só nós mesmos sabemos do esforço descomunal que fazemos para que as coisas ainda continuem funcionando.
E o pior é ver o tamanho do sentimento de desestímulo e abatimento de toda a classe… aliás, não de toda. Os policiais civis delegados durante essa gestão saltaram de R$4.100,00, para, em 2014 (com a última parcela do seu escalonamento e o aumento linear), chegarem a aproximadamente R$14.800,00, iniciais.
Aplaudo o esforço do governo em reconhecer o valor do trabalho dos policiais civis delegados que, pela sua importância, de fato merecem sim ser valorizados. Mas há muita coisa que não consigo entender. Não entendo o porquê do tratamento desigual em relação ao restante da categoria, eis que também temos nível superior e somos todos integrantes do grupo de Atividade de Polícia Judiciária. Não entendo por que como escrivã em 2006 o meu salário correspondia a 40% do subsídio de um delegado e agora está em torno de 20%. Não entendo ainda como é possível que 11% do efetivo, abocanhe praticamente 40% do bolo destinado à Polícia Civil (refiro-me à atividade fim).
A frieza dos números assusta, porém não se pode desconsiderar todos esses fatores quando se pretende analisar a situação caótica por que passa a Segurança Pública do nosso Estado. Uma Polícia Civil fraca e desestimulada se reflete não só nos policiais, mas também e, principalmente, na população, que fica exposta à ação cada vez mais ousada dos marginais. Essa é uma equação que precisa ser refeita, sob pena do caos se instalar de vez no nosso Estado.
Sei que o governador Cid Gomes é um homem sério, verdadeiramente compromissado com a coisa pública, tenho certeza, cumprirá a sua promessa de campanha quando disse que, ao final de seu mandato, teríamos orgulho de ser policiais civis. Gostaria muito de um dia encontrá-lo e, olhando nos seus olhos, pedir para ter um cuidado especial com a minha classe, que hoje está esquecida e abandonada.
Aos meus irmãos, digo apenas: NÓS VAMOS SIM CONSEGUIR MUDAR, ACREDITEM E SE UNAM !!!
Uma categoria de nível superior deve agir com tal. Então, sejamos acima de tudo PROFISSIONAIS CUMPRIDORES FIÉIS DAS NOSSAS FUNÇÕES… e tenho certeza que viveremos o dia em que poderemos todos caminhar de cabeça erguida, sabedores do reconhecimento do nosso valor por parte da sociedade que cuidamos com tanto esforço, carinho e comprometimento.
* Ana Paula Lima Cavalcante
Escrivã.

Um comentário:

  1. O medo do incômodo de uma família forte sempre esteve no horizonte dos maus intencionados. E os percalços da administração pública/CE, de ludibriar o povo, estão nos pilares de seus Órgãos. Porém, devidamente quando o MP recém-acordado começar a agir, consequentemente valorar as denúncias, o gestor Estadual descobrirá que a Polícia Civil não é o único óbice para as classes sociais inalcançáveis pela justiça. Por conseguinte, a hesitação de o Estado ter ao seu lado uma família paraplégica na apuração de seus afazeres de organizar o social, não perdurará. Nunca deixarei de acreditar nas mudanças; seja como profissional, seja como cidadão. Parabéns pelo providencial artigo, Ana Paula.
    Inspetor Aposentado,
    Wilemar Barros.

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