quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

MAIS UM DOS "NOSSOS" PERDE A VIDA

POLÍCIA CIVIL DE LUTO


Infelizmente, mais um dos “nossos” perde a vida de forma violenta e covarde. Sylvio Jefferson foi morto pelo insaciável apetite de sangue de criminosos inconsequentes. Nem mesmo “aniversariou” na sua recente aposentadoria, depois de 30 anos de efetiva contribuição à instituição Polícia Civil do Estado do Ceará. Conhecidíssimo pelo seu trabalho na circunscrição do 17º Distrito Policial, desde sua antiga localização no bairro Nova Assunção, Sylvio Jefferson torna-se mais um irmão morto em consequência do Status Quo da Segurança Pública no Estado do Ceará.

Sylvio Jefferson havia se aposentado há menos de um ano e, mesmo assim, ainda combatia eficazmente a criminalidade, através de um “bico” (termo usado para definir atividade na qual o policial se submete a desempenhar funções de segurança em mercadinhos, padarias, lanchonetes, farmácias, shoppings, etc.). Em virtude de um subsídio bem aquém do necessário para deixar para trás o “mundo cão” em que os agentes da Segurança Pública cearense desempenham suas funções, teve de, novamente, vivenciar todo o estresse e o perigo incutido na complexa tarefa de tentar trazer paz à população cearense. Acabou morto por assaltantes, de forma impiedosa.

O Estado do Ceará concorre em pé de igualdade com outros dois Estados nordestinos (Bahia e Pernambuco) no triste ranking dos Estados nordestinos mais violentos. Nem de longe essa vitória deve ser motivo de orgulho para o povo cearense. O Ceará caminha a passos largos para se transformar no maior pólo criminal do Nordeste! Culpa de quem? Como isso aconteceu? Tem como mudar essa desonrosa posição? Bem, o caminho de volta é bem complicado, porém não impossível.

Há décadas o Estado do Ceará, através de seus governantes, adota uma política errônea de Segurança Pública. Orquestrada na lógica “polícia administrativa prende os criminosos – lota as delegacias de presos – Inspetores de Polícia Civil têm de cuidar de presos da justiça cearense e, por isso, deixam de investigar os delitos – por falta de provas, delinquentes retornam a liberdade para delinquir novamente”. Por que se mantém essa negativa equação? Ora, estrategicamente é bem mais vantajoso desequilibrar o tripé da Segurança Pública (Polícia Militar, Polícia Civil e Bombeiros Militares). Engordando os quadros da Polícia Militar, têm-se profissionais que são submetidos às mais diversas situações (escalas extenuantes, salários baixos, péssimas condições de trabalho, etc.) sem a possibilidade do menor sopro de reivindicação do justo das bocas desses profissionais, vedadas por um severo código militar.

É elementar que sempre devemos ter a polícia administrativa com um maior efetivo, pois são eles que vão trazer a sensação de segurança nos bairros de nossa capital e dos interiores cearenses. Entretanto, quando infelizmente o crime concretiza-se, deve surgir de forma efusiva a figura da Polícia Judiciária para levar ao Ministério Público todas as provas necessárias para ratificar a autoria do delito e punir a contento quem não se adequa ao “viver em sociedade”. Não dá para ser diferente! Não dá para improvisar! Quando se trata da defesa do patrimônio e, principalmente, de vidas humanas, o “jeitinho brasileiro” tem de ser deixado de lado! Não dá para ficar com “economia de palito” em uma área tão delicada quanto essa. É imperativo que exista harmonia entre as forças policiais. Profissionais da segurança publica bem remunerados e qualificados para combater com Inteligência e eficácia o crime como um todo. Investimento em material humano é dever dos gestores estaduais.

Desde de meados de novembro do ano passado, mais de 500 Inspetores de Polícia Civil estão prontos para ingressar na Instituição. Meses se passaram e nada mudou essa situação. No carnaval desse ano houve uma verdadeira “operação tapa-buraco”, nos departamentos da Polícia Civil cearense. Férias foram sustadas inadvertidamente por falta de profissionais para trabalhar durante o carnaval. Enquanto isso, quase 1000 policiais militares foram efetivados no início de fevereiro. Dois pesos e duas medidas plenamente diferentes. Enquanto os gestores não enxergarem a Segurança Pública cearense de uma forma séria, macro, contextualizada e, principalmente, estratégica não sairemos dessa triste situação que nos acomete: pavor de sair de casa, desconfiança de tudo e de todos e medo de ocupar os espaços públicos do nosso querido Estado.

No último encontro que tive com Sylvio Jefferson nesses “plantões da vida”, percebi claramente o fácil sorriso que delineava o seu pomposo bigode quando nos referíamos a sua aposentadoria que se avizinhava. Sensação de alívio por ter chegado as suas três décadas de Instituição em pé, firme... VIVO!!! Bons pensamentos congestionavam seu cérebro naquele momento. Porém, precocemente foram tragados de forma trágica por criminosos adolescentes convictos da impunidade.

Mário Marques
Inspetor de Polícia Civil/07ºDP

2 comentários:

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  2. Os malfeitosos ainda não descobriram a real fragilidade da Polícia Civil, pois a polícia das primeiras décadas do Tempo de Serviço do Policial Jefferson, comandada pelo então General Assis Bezerra, orgulhava a sociedade cearense: polícia alavancada, cujos fatos criminosos que erguiam sanguinariamente a poeira do nordeste caiam nas garras da força judiciária deste Estado. Ressalte-se que é lamentável não ter se perdurado o corrimão sustentável; quiçá o Sindicado dos Policiais Civis do Ceará se redescubra tão logo para perceber que uma simples NOTA de pêsames não nos levam a lugar nenhum senão para a sepultura!

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